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quarta-feira, 17 de agosto de 2016
segunda-feira, 27 de junho de 2016
Saio ou Fico?
Encontrei o Queiroz na fila do buffet, horário de almoço. Enquanto
acomodava duas rodelas de beterraba sobre uma folha de alface ele disparou à
queima roupa:
- Pô, saiu do grupo?!
Assim, sem saudação, sem comentários sobre o frescor das saladas ou
sobre o frio lá fora.
- Bom dia, Queiroz. Que grupo?
- O grupo do futebol, do whats. Por que saiu?
Olhei para meus sapatos, a perna direita dez centímetros mais curta que
a esquerda. Antes do acidente, há mais de vinte anos, eu já era um pereba
dentro das quatro linhas. Agora eu não consigo correr dez metros, imagina
chutar uma bola. Que diabos faço eu em um grupo de futebol?!
- Saí? Acho que foi sem querer. Vou pedir pro Zé me adicionar de novo.
Saí mesmo. Desse e de outros grupos que já deveria ter saído há tempos.
Gosto dos meus amigos e eles estão em quase todos esses grupos de WhatsApp, mas
resolvi preservar apenas o grupo do trabalho e o da família. Quando preciso
falar com um dos caras eu mando mensagem “in box”.
Grupos de Whats, segundo opinião de muitos usuários, mais atrapalham do
que ajudam. Superlotam a memória do celular e fazem barulho durante o dia e até
na madrugada (ainda bem que tem a opção “silenciar”). Muitas vezes não
conseguimos acompanhar a movimentação do grupo e permanecemos nele apenas por
educação.
Outro dia topei com um amigo, médico. Carregava três iPhones.
- Pra que tantos aparelhos, Dornelles?
- Cara, preciso de um celular só pra receber ligações do hospital e do
consultório. Esse outro é para os familiares e amigos. O modelinho mais antigo
é para os grupos.
- Grupos?
- Do Whats. Grupo da oncologia, dos clínicos, do hospital e do postinho.
Grupo do futebol, do pôquer, da blitz, da família, meu... são muitos.
Dornelles deslizava o dedo na tela do iPhone enquanto falava:
- E tem também grupos de eventos, chá beneficente, aniversário do
Juninho, casamento da Bruna, essas coisas. Concentro tudo nesse aqui.
- E você consegue ler todas as mensagens?
- Com tantos grupos assim fica impossível. Dia desses fui numa festa de
aniversário que havia sido cancelada no grupo e eu não tinha lido a mensagem.
E tem a pornografia.
Os dados se desencontram, mas estima-se que 12% do conteúdo da Internet
sejam pornográficos. Porém, 35% dos downloads são de material relativo à
pornografia. Grande parte desse conteúdo circula por grupos de WhatsApp.
Google Imagens
Piangers, autor do inspirado Papai é Pop, disse que “Um grupo de
WhatsApp cheio de homens é uma assustadora fábrica de fotos e vídeos
pornográficos e piadas de mau gosto”. Um exagero do Pretinho. Verdade que
rola alguma sacanagem, videozinhos e fotos para adultos, mas isso não assusta
mínguem. Tampouco é exclusividade de grupos masculinos. Segundo as pesquisas
sobre o assunto, uma mulher a cada quatro homens usa a internet para pesquisar
sobre pornografia. E as brasileiras, ao lado das filipinas, são as campeãs
mundiais. Nada demais, há quem diga que até faz bem, ver pornografia.
Pesquisadores ingleses, americanos e franceses acreditam que assistir
filmes pornôs deixa a pessoa mais forte, mais tolerante e com uma vida sexual
mais ativa. Não sei, tem pesquisa pra tudo e desconfio de todas elas. Mas, na
dúvida, vou voltar para o grupo do futebol.
terça-feira, 24 de maio de 2016
Vamos Mudar de Assunto?
O filme A Rede Social nos
possibilita a rara oportunidade de entendermos um pouco os desdobramentos
acerca da criação de uma ferramenta que milhões de pessoas utilizam ao redor do
mundo, o Facebook, atualmente a mais popular rede social online do planeta.
Criado em 2004, o Face desbancou
aquele que era o queridinho dos internautas, o Orkut (fundado no mesmo ano), e
tempos depois adicionou ao seu vasto império tecnológico startups como o
Instagram e o WhatsApp, tornando seu fundador, Mark
Zuckerberg, o sexto homem mais rico do mundo, segundo a Forbes.
As redes sociais mudaram o modo de
as pessoas se relacionarem. Já promoveram casamentos e renderam divórcios. No
mundo corporativo, empresas de todo tipo e tamanho as utilizam para divulgar seus produtos e até recrutar colaboradores. Festas de aniversário com cinco
convidados ou gigantescas manifestações populares são convocadas pelos perfis
do Facebook. Nascem e morrem amizades nas redes sociais.
O ClassMates (colegas, em inglês) é
considerado a primeira rede social, criado em 1995 nos Estados Unidos, mas o
Orkut foi a pioneira em popularidade no Brasil. Isso considerando-se a era
digital, pois, para mim, as redes surgiram ainda no começo dos anos 80, com o
singelo nome de “Questionário”.
Google Imagens
O Questionário consistia em um
caderno escolar, pequeno, cerca de 50 folhas, onde a turma expressava suas
preferências. Invariavelmente, na primeira página pautada numerada linha por
linha, a garotada assinava o nome. Linha 1 - José; linha 2 - Beto; linha 3 –
Bruna; sucessivamente. Depois, nas páginas seguintes, as perguntas: qual sua
idade, cidade onde mora, escola onde estuda, e o José respondia sempre na linha
1, o Beto na 2 e assim por diante. Como
no Facebook, os amigos “postavam” a comida predileta, o filme que assistiu, o
livro que leu, os lugares visitados, a fruta, a cor, as músicas favoritas, sempre
respondendo ao questionário, uma pergunta por página. Então, lá pelo meio do
caderno, vinha a pergunta fatal: Vamos mudar de assunto? Era aí que a coisa
ficava realmente interessante.
A molecada abria o coração. Desse
ponto em diante o tema era namoro. Quem estava a fim de quem, quem trocou
beijos nos fundos da escola, por quem o coração adolescente batia mais forte! O
mais legal era ler as respostas dos outros, tarefa mais divertida do que responder
às indagações. Era zero imagem e 100% leitura. Algumas conquistas nasciam ali,
naquelas páginas encardidas por tanto manuseio. Para encerrar, as últimas folhas
do Questionário eram reservadas para que os assinantes deixassem comentários,
mensagens e recadinhos para o dono do caderno, tal qual a ferramenta Depoimento
que o Orkut disponibilizava.
Aquele caderninho era o perfil do
inquisidor, a sua página social. Ali continha um pouco da vida dos seus amigos.
Não de mil amigos, como amontoamos hoje nas redes sociais, mas de uns quinze,
vinte ou trinta, no máximo. Não virtuais, mas amigos e colegas que víamos todos
os dias na escola, nas ruas do bairro, nas festinhas de domingo. Ninguém falava
de política, de novela, de BBB ou de futebol (no máximo uma pergunta sobre o
time do coração). Ninguém deixava de ser amigo por conta de uma opinião
polêmica ou resposta mal intencionada. Apenas nos conhecíamos mais uns aos
outros e nos divertíamos fazendo aquele pequeno caderno rodar de mão em mão.
Hoje o Questionário é mais uma
dessas brincadeiras que se perderam na poeira do passado, seguindo o caminho de
tantas outras que foram substituídas por jogos de computador e aplicativos de
celular. Normal! O Facebook também sucumbirá algum dia, assim como Whatsapp.
Serão substituídos por alguma outra super novidade tecnológica. Torço para que,
pelo menos, consigamos preservar as amizades, as verdadeiras, aqueles amigos
que, em algum momento de nossas vidas, compartilhamos um caderno amassado, uma
cerveja gelada, um abraço apertado, um sonho possível. Amizades sem bandeiras, sem
partidos. Apenas amizade!
Google Imagens
terça-feira, 15 de março de 2016
quarta-feira, 9 de março de 2016
Dando o sangue
Em cada uma das tantas cirurgias por quais passei o
hospital me pediu para convocar doadores de qualquer tipo sanguíneo para
abastecer o banco de sangue e, caso precisasse, para mim. Já nos anos 90 as
reservas eram escassas, e hoje, apesar de tantas campanhas de conscientização,
o quadro não mudou muito. Foi com esse pensamento que cheguei ao Hemosc de
Blumenau esperando encontrar por lá dois ou três doadores. Felizmente, não foi
bem assim.
Cerca de dez pessoas conversavam do lado de fora do
prédio. Julguei que fosse uma turma de voluntários prestes a ganhar as ruas em
mais uma campanha pró-doadores. Passei pelo animado grupo e entrei no hall onde
um homem uniformizado me deu bom dia, grudou no meu peito um adesivo onde se
lia “doador” e indicou o fim de uma fila que subia pelas escadas desaparecendo
no segundo piso. Contei cerca de vinte voluntários na minha frente. Encostei-me a
parede abrindo o livro que levara comigo e comecei a ler a história do
brilhante físico Stephen Hawking, contada por sua esposa Jane.
Mais pessoas foram chegando. No segundo andar me
deparei com uma sala de espera lotada, com todos os assentos ocupados e muita
gente em pé. Logo fui chamado por uma mulher vestindo um jaleco branco para fazer
o cadastro de doador; outra mulher, igualmente vestida, depois de inserir meus
dados pessoais no sistema, entregou-me um questionário de duas páginas que eu
deveria responder com “a máxima sinceridade”. Em seguida vagou uma cadeira e eu
pude me sentar para respondê-lo, o que levou cerca de dois minutos.
Novamente meu nome foi chamado e sentei-me em outra
mesa com outra colaboradora que retirou uma amostra ínfima de sangue do meu
dedo indicador para um teste rápido, além de medir minha temperatura e pressão
arterial.
Voltei para a sala de espera, e enquanto aguardava
ser chamado para a entrevista pus-me a observar aquelas pessoas que estavam ali
unidas por um mesmo ideal. Homens e mulheres, jovens e adultos, casais de
namorados, pessoas sozinhas, mães e pais acompanhados pelos filhos -
crianças que provavelmente seguirão o exemplo quando estiverem aptas. Não se
importavam com o fato de que, naquele dia, o tempo para realizar todo o
processo estivesse demorando bem mais do que os 55 minutos sugeridos pelo
monitor. Doavam, além do sangue que seria dividido em plaquetas, plasma e hemácia
e que salvaria muitas vidas, um pouco do seu tempo, algumas horas de uma manhã
de sábado ensolarado. Ninguém parecia ter pressa, doadores e funcionários do
Hemosc. Abri meu livro novamente e mergulhei na leitura até ser chamado para a
entrevista onde uma simpática mulher (marca registrada dos funcionários do
Hemosc, a cordialidade) confirmou alguns apontamentos contidos no questionário
e, logo após, me liberou para a doação. Depois de outro período de espera onde
foi servido biscoitos e suco para o pessoal que aguardava a vez e que, como eu,
começava a sentir fome, fui chamado para cumprir o motivo maior de estarmos
todos ali, a retirada de 450ml de sangue.
Não levou 15 minutos! Terminado este processo, fui
encaminhado ao refeitório para repor os nutrientes perdidos. Enquanto devorava
o lanche que é servido a todos os doadores puxei assunto com a menina da copa. Ela
me contou que aquele era um dia atípico, com mais doações do que em outros
sábados, um dia para se comemorar.
Estima-se que no Brasil cerca de 1,5% da população doa
sangue, número que o governo pretende aumentar nos próximos anos através de campanhas
de incentivo. O procedimento é simples, indolor e pode salvar muitas vidas
através de uma única doação. Eu poderia dizer que perdi três horas do meu
sábado, porém saí dali com a sensação de ter ganhado algo. Foi a maneira que
encontrei para retribuir e agradecer aos amigos e anônimos que responderam
ao chamado do hospital onde estive internado quando precisei de doadores, há
vinte anos atrás. Na saída, quando deixava
o prédio do Hemosc, ainda tive tempo para uma rápida conversa com o cara da recepção
sobre o livro que eu estava lendo. – Também tem o filme, né? - disse-me ele
enquanto trocávamos um aperto de mão sob o sol das 13h; saí caminhando pela
calçada com a certeza de que, muito em breve, o verei novamente.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
Histórias
"A folha em branco me assusta"
Oswaldo Montenegro
Ouvi algumas historias tuas. E, por serem tuas, não me dizem respeito. Também tenho minhas histórias que, por serem minhas, apenas a mim pertencem. Porém, houve um momento em que nossas histórias se entrelaçaram e teceram uma outra, a nossa, e essa somente a ti e a mim interessa. Não sabemos o final, pois ainda a estamos escrevendo, mas enquanto estivermos dividindo a caneta, tu e eu, nossas possibilidades são infinitas, pois sempre teremos folhas em branco para usarmos da maneira que quisermos.
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