Publicado no Diário Popular, Pelotas - RS, de 23 de abril de 2014 (Dia Internacional do Livro) e no jornal
Cruzeiro do Vale - Gaspar - SC
Cruzeiro do Vale - Gaspar - SC
Quando Pedro recolheu a carteira no meio da lama sua preocupação era uma só: devolvê-la ao dono. Fez o comunicado diretamente no sistema de som do Parque de Rodeios, lotado àquela hora, depois de verificar o nome do portador nos documentos de identidade. Em menos de um minuto um sujeito apareceu em uma motocicleta dizendo que a carteira pertencia a seu primo. Pedro sugeriu que esperassem por ele, pois ali continha uma considerável soma em dinheiro. Mesmo sem contar, Pedro estimou haver algo perto de um salário. Não esperaram muito e logo o dono da carteira apareceu, também de motocicleta. Agradeceu muito, ofereceu cinquenta reais em gratificação – que Pedro recusou – e foi embora aliviado, mesmo não tendo percebido que a tinha perdido até ouvir seu nome nos auto-falantes.
Sei bem o
que é perder documentos e dinheiro, mas desconheço a alegria de encontrá-los
intactos. Mas, se não recuperei minhas carteiras ilesas quando as perdi (e já
perdi muitas) pelo menos meu celular me foi devolvido. Esqueci-o numa
sexta-feira dentro de um táxi-lotação em Porto Alegre. Liguei para o meu
próprio aparelho e o rapaz que o encontrou disse que ia deixá-lo desligado
porque a bateria estava terminando, e que eu poderia pegá-lo na segunda-feira na
portaria do prédio onde ele morava, pois sairia cedo de casa. Bom sujeito, a
quem nem tive oportunidade de agradecer pessoalmente.
Bombou na internet
e jornais de todo o Brasil (e até de fora do país) o caso do segurança de São
Leopoldo que achou 600 reais juntamente com um boleto bancário. O rapaz, sem
pensar duas vezes, quitou o boleto e encontrou a dona do dinheiro depois de
procurá-la pelas redes sociais. O caso, diante de tanta repercussão positiva,
acabou na TV em rede nacional com a participação ao vivo dos envolvidos.
Precisava? Sim! Exemplos como esse devem ser mostrados e comemorados em meio a
tanta roubalheira e perversão encontradas em nossa sociedade. Fosse, talvez, em
Helsinki, na Finlândia, cidade campeã de honestidade naqueles testes das
carteiras perdidas, onde 11 em 12 são devolvidas, o caso não chamaria a atenção
de ninguém. Mas aqui no Brasil, onde valorizam tanto a malandragem e o jeitinho
brasileiro, onde muita gente pensa que achado
não é roubado, um ato carregado de bom-caratismo, honestidade e – eis o
inusitado neste evento tendo em vista que o rapaz foi ao guichê quitar o boleto
- gentileza é, sem dúvida, digno de manchete.
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Já comentei aqui nestas páginas que
tive três carros roubados. Falávamos sobre isso num jantar entre amigos. Dos
doze comensais presentes, seis foram assaltados. Ou seja, esta pequena
amostragem indica exageradamente que, possivelmente, há em nosso país um
criminoso para cada dois habitantes. Eu, provavelmente, acabei usando os
ladrões de alguém.
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